Diário de bordo de Vasco da Gama

22 de Novembro de 1497

Hoje concluímos mais uma etapa da nossa viagem; dobrámos o Cabo das Tormentas, ou Cabo da Boa Esperança, como D. João II lhe chamou quando Bartolomeu Dias passou por lá.

Estávamos a dez léguas, quando uma nuvem enorme e escura se pôs por cima das nossas cabeças. Temi, ali, o fim da nossa viagem; temi a morte, confesso. Não esperávamos tal coisa. Ficámos muito apavorados, sem saber o que fazer. Uns rezavam, outros gritavam e previam o pior. Eu, no fundo, estava como eles, mas tentei manter a calma e reagir.

Entretanto, apareceu uma figura monstruosa que se pronunciou. Senti que era o nosso fim, senti o meu coração com batimentos mais fortes. Mas ouvi-o e questionei a sua identificação. Ele, admirado com o meu acto, mudou o tom de voz e respondeu à minha pergunta. Contou, também, a sua história de amor, com um discurso bastante emotivo: durante a guerra conta Júpiter, Adamastor apaixonou-se por Tétis, filha de Dóris. Mas, sabendo que ela nunca o amaria, decidiu conquistá-la à força. Alertada e apoiada pela mãe, Tétis marcou um encontro com Adamastor. Porém, o encontro não passou de uma armadilha, e o gigante acabou por ficar abraçado a um penedo, quando pensava que estava a abraçar a sua amada. Profundamente humilhado, o gigante converteu-se num penedo. Sem mais nada a fazer, começou a chorar cada vez mais e deixou-nos seguir o nosso caminho.

É de noite e está tudo calmo por aqui. Temi a morte hoje, mais do que nunca, confesso. O que passámos hoje não nos abalou fortaleceu-nos ainda mais. Agora, falta apenas um pequeno pedaço de mar para a Índia. Eu sei que um dia lá vamos chegar, eu sei que sim!

Sem mais nada a acrescentar,

Vasco da Gama

Mariana Amaral – 9.º B